§1.º
Das formas de tratamento em geral
Há rumores de que eu vibro... ou tintilo... com os títulos e pronomes de tratamento em geral. A minha Ex.ma pessoa vem, pois, pôr cobro a essas ideias pouco republicanas. A minha Ex.ma pessoa trata as pessoas de acordo com os costumes do sítio, seguindo o princípio de que se a tradição não prejudica, então pode ser mantida. Assim, na minha interpretação da norma consuetudinária social, há Ex.mos Senhores Professores Doutores e há Caros Professores. São Caros aqueles com os quais se fala, sejam os não doutores; são Excelentíssmos Professores Doutores aqueles com os quais raramente se trocaram palavras e tem o grau académico de Doutor. Assim, o exame oral ou a breve passagem pelos estranhos mestrados tradicionais não altera a substantivamente a situação.
Ocorre-me que há um erro no modo como as pessoas olham algumas formas de tratamento. É verdade que elas existem para criar uma barreira; mas essa barreira pode ser querida pelo menos excelente dos que dialogam. Quando um dia se fizer um estudo das minahs epístolas – e, naturalmente, há-de ser feito – notarão os meus biógrafos e outros estudiosos da minha futura Excelência que eu reservo igualmente o
Ex.mo Senhor Professor Doutor para aqueles que, podendo tratar por Caro, podiam, no que a mim me diz respeito, ir morrer longe. Em sentido figurado.
Enfim, há, igualmente, os que podiam ir morrer longe, mas para os quais o uso do Ex.mo Senhor Professor é, pelo que ficou dito uns parágrafos atrás, ridículo e absurdamente moroso. E é com tristeza que, então, escrevo Caro Professor.
§2.º
Dos títulos et cetera
O único problema dos títulos reside em eu não os ter. Assim, havendo quem os tenha, eu quero tê-los também. Está a natureza do pequeno burgês e não há nada a fazer. Sim. Perpetua um certo estado de cosias. Sim. São absolutamente anacrónicos. Mas sim: eles não são meras palavras. Estou absolutamente convencido que assinar Fulano de Tal, Duque de Não Sei Onde, torna tudo mais expedido, com excepção, claro está, da própria assinatura. Assentua, também, a distância face àqueles que queremos que morram longe. Não faltando, neste mundo, hipóteses de humilhação, então que ela penda para o outro lado, para o lado do meu interlocutor.
E há qualquer coisa de estético nos títulos e nas formas de tratamento que com eles estão conexas. Atente-se na Sua Majestade Fidelíssima, coisa que não é para todos, ou Sua Alteza Sereníssima. (Aliás, ser Sereníssima é um dos atractivos da República de São Marino!) Outras “raridades” são os títulos e formas de tratamento eclesiáticos.
Pois eu quero uma dessas coisas. É que não aprecio especialmente a palavra “licenciado” nem lhe tenho grande apego, ainda que me tenha custado torná-la atributo meu.
Das formas de tratamento em geral
Há rumores de que eu vibro... ou tintilo... com os títulos e pronomes de tratamento em geral. A minha Ex.ma pessoa vem, pois, pôr cobro a essas ideias pouco republicanas. A minha Ex.ma pessoa trata as pessoas de acordo com os costumes do sítio, seguindo o princípio de que se a tradição não prejudica, então pode ser mantida. Assim, na minha interpretação da norma consuetudinária social, há Ex.mos Senhores Professores Doutores e há Caros Professores. São Caros aqueles com os quais se fala, sejam os não doutores; são Excelentíssmos Professores Doutores aqueles com os quais raramente se trocaram palavras e tem o grau académico de Doutor. Assim, o exame oral ou a breve passagem pelos estranhos mestrados tradicionais não altera a substantivamente a situação.
Ocorre-me que há um erro no modo como as pessoas olham algumas formas de tratamento. É verdade que elas existem para criar uma barreira; mas essa barreira pode ser querida pelo menos excelente dos que dialogam. Quando um dia se fizer um estudo das minahs epístolas – e, naturalmente, há-de ser feito – notarão os meus biógrafos e outros estudiosos da minha futura Excelência que eu reservo igualmente o
Ex.mo Senhor Professor Doutor para aqueles que, podendo tratar por Caro, podiam, no que a mim me diz respeito, ir morrer longe. Em sentido figurado.
Enfim, há, igualmente, os que podiam ir morrer longe, mas para os quais o uso do Ex.mo Senhor Professor é, pelo que ficou dito uns parágrafos atrás, ridículo e absurdamente moroso. E é com tristeza que, então, escrevo Caro Professor.
§2.º
Dos títulos et cetera
O único problema dos títulos reside em eu não os ter. Assim, havendo quem os tenha, eu quero tê-los também. Está a natureza do pequeno burgês e não há nada a fazer. Sim. Perpetua um certo estado de cosias. Sim. São absolutamente anacrónicos. Mas sim: eles não são meras palavras. Estou absolutamente convencido que assinar Fulano de Tal, Duque de Não Sei Onde, torna tudo mais expedido, com excepção, claro está, da própria assinatura. Assentua, também, a distância face àqueles que queremos que morram longe. Não faltando, neste mundo, hipóteses de humilhação, então que ela penda para o outro lado, para o lado do meu interlocutor.
E há qualquer coisa de estético nos títulos e nas formas de tratamento que com eles estão conexas. Atente-se na Sua Majestade Fidelíssima, coisa que não é para todos, ou Sua Alteza Sereníssima. (Aliás, ser Sereníssima é um dos atractivos da República de São Marino!) Outras “raridades” são os títulos e formas de tratamento eclesiáticos.
Pois eu quero uma dessas coisas. É que não aprecio especialmente a palavra “licenciado” nem lhe tenho grande apego, ainda que me tenha custado torná-la atributo meu.